Sobre limites e respeito

Dia desses, conversando com uma amiga, falávamos de como é difícil reconhecer nossos próprios limites de aceitação da diferença.

Ela, também homossexual e mais ou menos da minha idade, contava que teve algum contato com praticantes do poliamor e, diante deles, chegou à conclusão de que não era capaz de entender como era possível viver uma relação amorosa assim, com tantas pessoas ao mesmo tempo.

Segundo ela, ao constatar esse seu bloqueio, lembrou-se de seu pai, que não era capaz de entender o amor entre pessoas do mesmo sexo, e se sentiu retrógrada como ele.

Diante disso, eu (que, aliás, também tenho sentimentos semelhantes em relação ao poliamor) pensei que todos nós temos algum limite de compreensão da diferença, é praticamente inevitável. O que fazer então?

Em primeiro lugar, acho que devemos assumir que temos, sim, um limite e que não necessariamente temos de lutar contra ele.

O que não podemos, eu penso, é considerar tudo que está para além desse marco como ilegítimo, intolerável, inadmissível. Eu posso não querer viver aquilo que outra pessoa vive, mas isso não me dá o direito de condenar quem escolhe viver assim.

Essa, para mim, seria a diferença entre minha amiga e seu pai. Ele não entendia o amor entre iguais e, por isso, reprovava quem vivia essa experiência. Ela pode não entender quem vive o poliamor, mas respeita quem escolhe viver assim.

Faz toda a diferença. Se conseguirmos reconhecer que temos limites, sim, mas que eles não nos autorizam a julgar quem está para além deles, a convivência entre os humanos será bem melhor.

 

diferente

Comentários

  1. só posso concordar, enfática e alegremente

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  2. Exatamente isso! Obrigada pelas palavras =D

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  3. Maravilhoso texto! Tomara que essa perspectiva ganhe mais terreno!

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  4. também assino embaixo. é mesmo muito difícil.

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  5. Que texto bacana, Ana! Fácil de entender até para quem anda se distraindo com a intolerância.

    Beijo!

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  6. Essa discussão tem sido uma constante na minha vida, pois entendo que não admitir nossos limites e nossos preconceitos em relação as escolhas do outro é um erro, inibe nossa evolução. Tenho muitos senões, muitas práticas e comportamentos alheios não me servem, não se enquadram na minha vida, mas o importante tem sido entender que isso não me permite interferir na esfera alheia. Basta, apenas, que uns respeitem os espaços dos outros e a convivência se dará com harmonia. Temos que ter, sim e sempre, uma única voz contra a intolerância. Texto maravilhoso, Ana.

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  7. Muito obrigada por esse texto. Depois que passei a pensar assim, encontrar eco em outras pessoas que tem a mesma compreensão é um conforto. Obrigada, de verdade!

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  8. Obrigada pela visita e pela compreensão! Volte sempre! :-)

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