Atacado ou varejo?

Na madrugada de ontem, 12 de junho, 50 pessoas foram mortas por fuzilamento numa casa noturna em Orlando. Era uma boate gay, final da noite de temática latina, e quando todos tomavam a saideira, um homem entrou e começou a atirar. Só parou quando foi morto pela polícia, depois de matar 49 e ferir 53 dos presentes ali.

Mais tarde, o pai do matador disse à polícia que tudo havia começado em abril, quando Omar Mateen teria ficado muito irritado ao ver dois homens se beijando num aeroporto. Embora o EI tenha aproveitado a chance para assumir a autoria do atentado, não há evidências até aqui de que o assassino tenha agido por qualquer outra razão além de sua própria homofobia.

Em pleno domingo de dia dos namorados no Brasil, amanhecemos com essa notícia terrível. Muita gente se manifestou, com razão, lamentando o ocorrido. Revolta, tristeza, solidariedade foram os sentimentos mais constantes entre os meus amigos e conhecidos nas redes sociais (e eu me incluo).

Mas eu gostaria de levar a discussão um pouco mais adiante, e lembrar que no início deste ano, o Grupo Gay da Bahia divulgou seu relatório anual sobre o assassinato de homossexuais no Brasil. (Os últimos relatórios, incluindo o de 2015, podem ser acessados aqui). Lá podemos ler que foram 318 assassinatos, sendo que aproximadamente a metade se refere a homens homossexuais. O segundo grupo mais atingido é o de travestis, seguido pelo das lésbicas e dos bissexuais.

Ou seja, a cada ano, no Brasil, temos mais de 6 vezes mais mortes de homossexuais do que as que ocorreram ontem em Orlando. E sabe quem se compadece disso? Muito menos gente do que as que lamentaram o trágico episódio de ontem.

Mortes no atacado comovem mais do que mortes no varejo? Talvez. Mas o que causa todas elas é a mesma homofobia cotidiana. Essa mesma que se alimenta de piadinhas preconceituosas, de religiões fundamentalistas, de ódio, de intolerância para com a diferença, de discursos conservadores de políticos truculentos.

Se você apóia qualquer uma dessas manifestações, sinto dizer que suas mãos estão manchadas não só do sangue das 50 vítimas de ontem, mas também das que morrem no varejo de quase todos os dias do ano, no Brasil.

Se a homossexualidade não te agrada, não pratique. Simples assim. E deixe que cada um viva suas preferências em paz.

arcoirissangue


 

 

Comentários

  1. Tão difícil ter paz com essa quantidade de sangue ao nosso lado... Tanto ódio e intolerância que a gente vive se escondendo, com medo de enlaçar as mãos. Não devia ser tão difícil viver a própria vida e deixar o outro ser feliz.

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  2. Maria Auxiliadora-Lili13 de junho de 2016 às 15:06

    Será que é tão difícil as pessoas cuidarem de suas próprias vidas sem querer se meter na dos outros?
    Em sua maioria, não praticam o que cobram dos outros.

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  3. Sim, mais fácil ver o erro do outro!

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  4. Da um puta desânimo viver com esse tipo de coisa acontecendo e ver gente comemorando o que aconteceu, ou querendo culpar alguém indiretamente.
    Não sei o que é pior, o ocorrido ou gente comemorando o ocorrido.
    Foda, né?

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