Cecília e eu - parte 7

Já estou na sétima postagem e ainda nem contei como foi o final do meu mestrado.
Pois bem,  depois de ter feito temporadas de pesquisa em São Paulo e Rio de Janeiro, já tinha comigo o material de que precisava para terminar a dissertação. E aí começou um longo período de crises na hora de escrever... Mas finalmente chegou o fim do prazo e a dissertação ficou pronta.
Um dos membros da banca foi o mesmo Alexandre Eulalio, de quem já falei na parte 5. Ele já estava doente, naquela altura, e infelizmente morreu poucos meses depois. Em memória dele, a Unicamp criou o Centro de Documentação Alexandre Eulalio, inclusive para receber os documentos de seu espólio que foram doados pela família.
Durante os anos finais do mestrado, eu já tinha me mudado para São Paulo e começado a dar aulas em faculdades particulares. Depois da defesa, continuava apaixonada por Cecília mas não tinha vontade de fazer doutorado, até que um dia achei que era hora de começar de novo.
Consegui ser aprovada para o doutorado na USP, em literatura portuguesa, já que essa era a discplina mais frequente entre as que eu lecionava. Mas como eu iria incluir Cecília Meireles nisso?
Acabei optando por fazer um projeto de comparar um livro de Cecília (o Romanceiro da Inconfidência) e um de Fernando Pessoa (Mensagem). Mas preciso confessar: ainda gosto mais da minha dissertação de mestrado do que de minha tese de doutorado.
Durante os anos em que morei em São Paulo, trabalhando e estudando, conheci pessoas interessadas na obra de Cecília Meireles. Falava sobre minha pesquisa do mestrado e muitas vezes recebi pessoas em casa para pesquisar o material bibliográfico que eu tinha coletado. Era cada vez mais difícil manter aquilo tudo em ordem e bem conservado.
Foi então que tive a ideia de doar o conjunto para o Centro de Documentação Alexandre Eulalio, para resolver tanto a questão do acesso aos documentos quanto a de sua conservação adequada. E lá foram meus papeis para Campinas. Algumas pessoas acharam que eu não deveria ter feito isso, pois perderia a exclusividade desse material, mas eu fiquei muito feliz em doar. De certa maneira, sentia que retribuía um pouco à Unicamp o que ela me deu. Eu não iria precisar daqueles documentos para fazer a tese de doutorado. E, se precisasse, eles lá estariam, disponíveis para mim e para quem quisesse.
Além de tudo isso, eu sentia que era também uma forma de homenagear Alexandre Eulalio, que tinha sido tão importante no meu percurso acadêmico.
Para terminar esse capítulo, vale ainda uma lembrança: hoje, dia 7 de novembro, Cecília Meireles faria 112 anos. E no dia 9, serão 49 anos sem ela.

Comentários

  1. Sabe que nessa historia de ler suas publicações me deu vontade de reler um pouco de Cecilia e, agravado pelo fato da feira do Livro estar em plena atividade por aqui e meus livros estarem encaixotados há dois anos..., acabei adquirindo dois exemplares dela, um é "O Romanceiro da Inconfidência". Deixei para iniciar a leitura no final-de-semana, quando o farei a sombra de minhas árvores queridas. Curtindo muito suas histórias! Abraços Ana!

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    1. Ah, que bom, Paula, depois me conta se tá gostando!

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  2. Seu relato está cada vez mais interessante. Achei digna sua doação; que muitos tenham se beneficiado do material.
    Beijos.

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  3. Continua excelente o seu relato. Penso que a doação para a UNICAMP foi muito acertada.

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  4. Ana, sou apaixonada pela poesia da Cecília desde a adolescência e sua bibliografia em muito me ajudou a conhecer um pouco mais do que foi escrito sobre ela. Sempre que tentava acessar os documentos referenciados imaginava a sua história ao longo desse caminho... Agradeço pelo seu trabalho e por sua generosidade em compartilhar parte dessa história conosco. Selma

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    1. Selma, obrigada pela visita e pelas palavras gentis. Volte sempre! :-)

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  5. Essa sua jornada é uma inspiração sem fim! Fico arrepiada a cada post!

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