Foi a gota d'água.

Muita gente tem motivos para se envergonhar de coisas da juventude. Eu também tenho.
Mas tem uma história de que eu me orgulho muito no meu passado.
Foi assim.
Era já o final de 1977 e eu tinha acabado de completar 18 anos. Meu pai não permitia que seus filhos viajassem sozinhos nunca. Só viajávamos em família.
Eu, até então, nunca tinha posto meus pezinhos em São Paulo, já que sempre moramos no interior e a capital era um monstro para meu pai, que nunca quis nos levar até lá.
Acontece que eu jogava basquete no time da escola, e naquele ano, que era o meu último do colegial (o que hoje chamam de ensino médio), conseguimos nos classificar nos Jogos Colegiais para disputar o título estadual em São Paulo.
Meu pai foi logo dizendo que não me autorizava a ir, mas a técnica do time foi em casa pessoalmente fazer uma campanha para que ele autorizasse minha ida.
Parêntese: não é que eu jogasse bem, é que o time estava muito desfalcado e não haveria ninguém - fora eu e uma colega que convalescia de uma cirurgia - para ficar no banco.
Meu pai acabou autorizando a viagem e lá fui eu.
Ficamos alojadas no Parque da Água Branca, no que ainda hoje se chama Conjunto Desportivo Baby Barioni.
Nem cheguei a sair do banco e nós ficamos em penúltimo lugar na classificação, mas foi uma delícia de viagem.
Principalmente por causa do que vou contar agora.
A técnica (só me lembro de que ela tinha o apelido de Tica) nos perguntou o que gostaríamos de fazer em São Paulo nos momentos de folga dos treinos e jogos. E eu, a mais caipira das caipiras que ali estavam, não hesitei. Disse logo que queria assistir à peça "Gota d'água", de Chico Buarque e Paulo Pontes, que estava em cartaz no Teatro São Pedro,com Bibi Ferreira no papel principal.
Tica adorou a ideia. Mais uma colega também quis ir e assim, ingressos comprados nem sei mais como, lá fomos nós.
Foi um deslumbramento para meus olhos de menina criada no interior, longe de quase tudo que me interessava culturalmente. Nunca me esqueci desse dia.
Sinto o maior respeito pela adolescente que eu fui. Na sua primeira vez em São Paulo, em lugar de querer conhecer shopping, Mappin ou Playcenter, optou por ir ao teatro ver uma peça que marcou época. E me marcou para sempre.
E hoje, ao encontrar no Facebook (graças à Márcia Guimarães) esse filme aqui, me lembrei de tudo isso. Qualquer dia consigo achar, em meio aos meus caóticos papéis, o canhoto do ingresso. Quando isso acontecer, posto aqui.

Comentários

  1. Que coincidência, tenho os ingressos da peça Gota D´água quando assistí duas vezes no Teatro Carlos Gomes, em 1976, na Praça Tiradentes, o Rio de Janeiro.

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    Respostas
    1. Ah, que inveja de você! Ainda não achei meu ingresso! :-)

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  2. Eu também tenho - não só os ingressos como os programas!!
    Que bom que você tinha uma técnica que entendeu sua vontade e não lhe pressionou para ir ao Mappin... ;-)

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