Escuitando!

Conheci uma senhora já falecida, camponesa, que muitas vezes ficava parada num canto, quietinha. Quando a gente perguntava: "O que a senhora tá fazendo aí tão quietinha, dona Iolanda?" ela respondia: "Tô escuitando!" E às vezes não tinha nada pra ela "escuitar" a não ser o silêncio. "Escuitar", pra ela, era ficar ali, quietinha, pensando na vida. Escutando a si mesma, quando tudo em volta dela estava quieto.
Lembrei disso outro dia, ainda no ano passado, quando li uma interessante matéria da Eliane Brum na revista Época, intitulada "Por que as pessoas falam tanto?", cujo link está aqui.
Já tinha lido outra matéria dela, de 2008 (o link está na própria reportagem que cito aqui), sobre a experiência de passar dez dias em silêncio, numa espécie de retiro. Acho que essa experiência marcou tanto a Eliane que ela passou a ver o mundo barulhento em que vivemos de outra forma.
Só pra ter uma idéia, cito um trechinho da matéria mais atual:

É um mundo de faladores compulsivos o nosso. Compulsivos e auto-referentes. Não conheço estatísticas sobre isso, mas eu chutaria, por baixo, que mais da metade das pessoas só falam sobre si mesmas. Seu mundo torna-se, portanto, muito restrito. E muito chato. Por mais fascinantes que possamos ser, não é o suficiente para preencher o assunto de uma vida inteira.

Não é muito interessante? Vale a pena dar uma passada lá pela página da revista e ler o texto completo. Essa leitura talvez interfira um pouco na maneira como usamos a fala e nos leve a praticar um pouco mais o que a dona Iolanda chamava de "escuitar".

Comentários

  1. ...como boa mineira sempre fui mais de 'escuitar' que falar ...

    Heloisa Doca

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  2. vou ler a reportagem! gostei da indicação. pessoas que falam muito me cansam, mesmo quando o assunto não é sobre elas mesmas. porque falando, falando, falando, temos que prestar atenção nelas, pra não ser "mal educad@s"...
    sim, todo mundo as vezes fica tagarela... mas tem gente que não sai desse estado nunca. aff.

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