Casa 11: Rio de Janeiro

Na etapa carioca da pesquisa do meu mestrado, passei alguns meses morando no Rio de Janeiro, num pensionato, na rua Artur Bernardes, no Catete. Quando fui para lá, mal conhecia  a cidade. Uma amiga da minha mãe indicou o pensionato e lá fui eu.

Era um lugar feio, decadente. O proprietário era um senhor chamado Rocha, figura nada simpática. Eu ficava no quarto da frente, com outras 3 garotas. Minha cama era na parte de cima de um beliche. Embaixo da minha cama morava uma moça que saía para o trabalho muito cedo e usava um perfume forte e desagradável: era o meu despertador diário.

As outras duas garotas eram mais simpáticas e ficamos amigas. Tenho contato ainda hoje com uma delas.

Morar no Rio, para mim, era morar na cidade de Cecília Meireles. Eu andava por lá em busca do seu rastro. Conheci amigos dela, suas filhas e netos, a casa onde tinha vivido. Por causa de Cecília, eu deveria amar o Rio, mas eu não gostava de estar lá, sobretudo naquele lugar onde morava e naquele momento da minha vida.

Mesmo assim, quando ia à Oficina Literária Afrânio Coutinho, que ficava nas imediações do Jardim de Alá, eu pegava um ônibus circular que fazia um longo caminho, só para ter o gosto de um pequeno city tour antes do trabalho. Saía do Largo do Machado, subia a Rua das Laranjeiras, a Rua Cosme Velho, passando ao lado da casa de Cecília, atravessava o túnel Rebouças, passava pela Lagoa, Jardim Botânico, Leblon, Ipanema. Na volta, seguia o percurso por Ipanema, Copacabana, Botafogo, Flamengo, Largo do Machado.  Era uma viagem, e eu aproveitava para ir olhando a paisagem e pensando na vida.

Foi uma época difícil mas cheia de descobertas. No final de 1983, a etapa de pesquisa de campo do meu mestrado estava se encerrando. Em breve eu voltaria a morar em São Paulo, mas antes teria que ultrapassar o segundo rio.

 

catete(O casarão onde funcionava o pensionato já não existe mais. Era onde está o círculo laranja)


Caminho


(Meu city tour quase diário no Rio de Janeiro)

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