Milagres de fevereiro


Nos primeiros dias deste mês de fevereiro passei por algumas
experiências que confirmam um dos versos de Caetano Veloso de que mais gosto:
“quem é ateu e viu milagres como eu”. 
Foram dias realmente miraculosos, esses dias de fevereiro na Bahia.

Tudo começou quando Carmem e eu finalmente decidimos viajar
para a Bahia a tempo de participar do encerramento da festa de Nossa Senhora da
Purificação, em Santo Amaro. Há algum tempo planejávamos participar da festa,
mas sempre algum imprevisto se apresentava.

Neste ano decidimos, meio de improviso, que iríamos.

Chegamos em Santo Amaro a tempo de presenciar o último dia
da novena da padroeira e reconhecer o território para os eventos do dia
seguinte, em que uma procissão encerraria os festejos.

No dia seguinte, pela manhã, lá estávamos nós, esperando
pelo primeiro evento da tradição: ver Maria Bethânia adornando a imagem de
Santa Bárbara que faria parte do cortejo.

Para quem não sabe, na procissão de Nossa Senhora da
Purificação acontece um desfile das imagens mais tradicionais das igrejas da
cidade, cabendo à imagem da padroeira o encerramento do evento.

Os devotos enfeitam seus santos de devoção para esse dia. No
caso de Santa Bárbara, os arranjos finais ficam por conta de Bethânia.

Vê-la bem de perto, em postura de devoção, arranjando as
rosas no andor e, por fim, colocando nas mãos de Santa Bárbara a espada e a
custódia de prata, foi o primeiro milagre da viagem.



Acompanhamos depois o pequeno cortejo que levou a imagem de
Santa Bárbara ao ponto de partida da procissão. Bethânia carregou uma das varas
da charola até o final, sob o sol quente do meio-dia, pelas ruas de
paralelepípedos da cidade. Outro milagre, poder testemunhar essa caminhada
devocional.



Depois disso, Bethânia teve um momento privado com a imagem
de Nossa Senhora da Purificação. Por um outro milagre, tive o privilégio de
testemunhar a cena tão íntima, sobre a qual, por isso mesmo, guardo segredo.

Já ao cair da tarde, chegou finalmente a hora da procissão.
Enquanto esperávamos o início, pudemos – como tantas outras pessoas – ver
Bethânia ali na calçada, aguardando, como nós, que as imagens começassem seu
desfile. Uma foto do milagre:



Quando a imagem de Nossa Senhora da Purificação passou por ali, Bethânia mais uma vez assumiu seu posto para ajudar a carregar o andor da santa. Esse momento igualmente miraculoso foi também muito confuso, pela aglomeração de pessoas, por isso não foi possível fotografar. Uso aqui uma foto cedida pela Carmem, que teve mais sorte que eu.


(foto Carmem Almeida)

Quando enfim, já de volta a Salvador, fomos assistir a
“Fevereiros”, o filme do Marcio Debellian, tudo fazia ainda mais sentido:
tínhamos acabado de testemunhar a repetição de grande parte das cenas que
aparecem na tela.

“Fevereiros” ainda teve a grandeza de encadear aos milagres
que tínhamos acabado de presenciar um acontecimento miraculoso passado: o
desfile de carnaval da Mangueira em 2016, que assistimos bem de perto no
Sambódromo.


A fala de Luiz Antônio Simas, relacionando o samba baiano
(especialmente o de Santo Amaro) ao carnaval carioca, foi o elemento
aglutinador dos milagres que vivemos em tempos diferentes: a Bethânia carnavalesca
no Sambódromo estava conectada indissoluvelmente à Bethânia devocional de Santo
Amaro.  Outro milagre, enfim, operado
pela sabedoria muito brasileira do Simas.

Nesses tristes tempos que vivemos em nosso país, poder viver
esses milagres é um alento. Que venham outros.


Comentários

  1. É Ana esse milagre você carregarão por todo o sempre. O milagre do Brasil que Bethânia canta com tanto fervor. O Brasil que deveria ser. E estar próximo a ela nestes momentos é singular. Deixa nossa alma leve e cheia de esperança. Que bom que vocês viveram essa magia. Que venham outros Fevereiros.

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  2. Lindo texto! Bom vivenciar momentos de devoção e fé! Bjs

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  3. Uau! Seu texto são suas fotos! Amei a leitura! Gratidão por compartilhar!

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