Casa 4: São Manuel

Logo que meu pai entrou no D.E.R., fomos morar em São Manuel, eu tinha menos de 5 anos. Ficamos lá pouco tempo, menos de 2 anos, portanto minhas lembranças daquela casa são ainda um pouco difusas.

Era uma casa muito grande e velha, que ficava no final da cidade, numa rua de terra. Depois dela, já começavam os sítios, e era num deles que eu ia buscar leite todo dia com a leiteira de alumínio balançando na mão, às vezes acompanhada de Antônia, uma menina um pouco mais velha que era nossa vizinha.

Embaixo da casa tinha um porão que ficava abandonado, sem acabamento, sem luz. Para mim, era um lugar cheio de assombrações e eu tinha medo de entrar ali. O quintal era quase todo de terra, com mato crescendo pra todo lado.

Numa das paredes dos fundos, tinha uma casa de abelhas. Em dias de muita chuva, elas caíam mortas e era um perigo andar descalça pelo quintal. Quantas ferroadas de abelha morta...

Foi naquela casa que aprendi a ler, antes dos 5 anos. Foi assim: minha tia, que era professora, foi nos visitar e levou de presente para mim uma cartilha. Ela me ensinou as primeiras lições e, depois que ela foi embora, continuei sozinha a tentar entender aquilo, com a supervisão da minha mãe. Minhas primeiras leituras aconteceram naquela casa: eram os livros da coleção infantil de Monteiro Lobato, numa edição do ano de meu nascimento, comprada por meu pai. Antes de chegar ao primeiro ano escolar, já tinha lido todos eles.

Nunca mais voltei a São Manuel. Acho que não reconheceria nenhum dos lugares por onde passava há 50 anos. Por onde andará Antônia?

 

Smanoel

(Meus irmãos e eu, diante da nossa casa em São Manuel. Eu sou a da direita. Antônia carrega minha irmã no colo.)


 

 

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