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Mostrando postagens de 2013

Adeus, ano velho.

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Depois da longa série de postagens sobre Cecília e eu, o blog ficou um pouco parado. Era preciso retomar o fôlego.  Agora vieram as festas de fim de ano, quando o nível de barulho no mundo aumenta muito. Diante de tudo isso, Psiulândia se recolhe, mas com promessa de muitas novidades para 2014. Quem viver verá. Até lá! 

Adeus, ano velho.

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Depois da longa série de postagens sobre Cecília e eu, o blog ficou um pouco parado. Era preciso retomar o fôlego.  Agora vieram as festas de fim de ano, quando o nível de barulho no mundo aumenta muito. Diante de tudo isso, Psiulândia se recolhe, mas com promessa de muitas novidades para 2014. Quem viver verá. Até lá! 

Enseada

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Já disse que moro no Edifício Enseada. E adoro morar aqui, por muitas razões. Mas na temporada de cruzeiros, tenho uma razão a mais: os navios passam aqui em frente, muito perto da minha varanda. É um prazer vê-los quando começam a apontar ao lado do prédio. É como se eles estivessem virando a esquina aqui ao lado. Esse foi o de hoje, o MSC Orchestra:

Cecília e eu - parte 10 (final)

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E assim chegamos ao final do percurso. Não ao final da minha relação com Cecília, claro, pois essa vai até o fim da minha vida, imagino. Ao longo desses anos, desde aquele distante dia em que topei com os versos que mudaram a minha vida, Cecília tem sempre estado presente. Nesses mais de 35 anos, escrevi muito sobre a obra da minha autora preferida. Foram muitos artigos, comunicações em congressos, ensaios, palestras. Não saberia fazer a conta exata, porque às vezes uma palestra acaba virando artigo, uma comunicação num congresso vira ensaio numa coletânea... Mas acho que dá pra dizer que meus escritos sobre Cecília andam pela casa das dezenas. Imagino que nem tudo se salva, mas tenho orgulho de alguns deles, porque acho que terão de fato contribuído para a compreensão da obra de Cecília. Um dos meus maiores orgulhos é o de ter colaborado na edição da Poesia completa de Cecília Meireles que saiu no ano do centenário de nascimento da poetisa, 2001. É uma edição muito cuidada, em dois v

Cecília e eu - parte 10 (final)

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E assim chegamos ao final do percurso. Não ao final da minha relação com Cecília, claro, pois essa vai até o fim da minha vida, imagino. Ao longo desses anos, desde aquele distante dia em que topei com os versos que mudaram a minha vida, Cecília tem sempre estado presente. Nesses mais de 35 anos, escrevi muito sobre a obra da minha autora preferida. Foram muitos artigos, comunicações em congressos, ensaios, palestras. Não saberia fazer a conta exata, porque às vezes uma palestra acaba virando artigo, uma comunicação num congresso vira ensaio numa coletânea... Mas acho que dá pra dizer que meus escritos sobre Cecília andam pela casa das dezenas. Imagino que nem tudo se salva, mas tenho orgulho de alguns deles, porque acho que terão de fato contribuído para a compreensão da obra de Cecília. Um dos meus maiores orgulhos é o de ter colaborado na edição da Poesia completa de Cecília Meireles que saiu no ano do centenário de nascimento da poetisa, 2001. É uma edição muito cuidada, em doi

Cecília e eu - parte 9

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A história já se estendeu muito, mas eu prometo que está acabando... Mas antes do final , queria contar algumas histórias sobre um outro aspecto da minha relação com Cecília: as viagens. Para quem não sabe, a escritora era uma viajante das boas. Fez sua primeira viagem internacional em 1934, indo pra Portugal com o primeiro marido, que era o artista plástico português Fernando Correia Dias. Foram de navio, numa viagem que, entre ida, estadia e volta, levou 3 meses. Foi nessa ocasião que aconteceu também o célebre desencontro entre Cecília e Fernando Pessoa. Foi assim: marcaram um encontro no Café A Brasileira, no Chiado, e Pessoa não apareceu. Quando Cecília voltou ao hotel, encontrou um bilhete dele dizendo que o horóscopo dizia que não era um bom dia para se encontrarem. E assim ele perdeu a única chance de conhecer Cecília pessoalmente... Costumo dizer que, de tão arrependido, está até hoje lá, sentadinho, esperando que ela volte! Quando estive nesse café, fiz questão de tirar uma f

Cecília e eu - parte 9

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A história já se estendeu muito, mas eu prometo que está acabando... Mas antes do final , queria contar algumas histórias sobre um outro aspecto da minha relação com Cecília: as viagens. Para quem não sabe, a escritora era uma viajante das boas. Fez sua primeira viagem internacional em 1934, indo pra Portugal com o primeiro marido, que era o artista plástico português Fernando Correia Dias. Foram de navio, numa viagem que, entre ida, estadia e volta, levou 3 meses. Foi nessa ocasião que aconteceu também o célebre desencontro entre Cecília e Fernando Pessoa. Foi assim: marcaram um encontro no Café A Brasileira, no Chiado, e Pessoa não apareceu. Quando Cecília voltou ao hotel, encontrou um bilhete dele dizendo que o horóscopo dizia que não era um bom dia para se encontrarem. E assim ele perdeu a única chance de conhecer Cecília pessoalmente... Costumo dizer que, de tão arrependido, está até hoje lá, sentadinho, esperando que ela volte! Quando estive nesse café, fiz questão de tirar u

Cecília e eu - parte 8

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Ainda durante o doutorado, prestei o concurso para trabalhar na Unesp, em Assis, e passei. Lá começava uma nova fase na minha vida. Logo nos primeiros anos, comecei a orientar trabalhos de Iniciação Científica. E quem adivinha o tema das pesquisas? Bom, na verdade eram temas variados, mas sempre havia alguns alunos pesquisando Cecília sob minha orientação. Uma das primeiras ideias que tive foi reativar o levantamento de textos sobre Cecília, como numa continuidade daquele trabalho do mestrado. Durante muitos anos, tive alunos coletando o que se escrevia sobre ela: Jane, Luciana, Jacicarla, Vinicius, Fabiano. Ao final das etapas das pesquisas, os documentos eram também enviados para Campinas. Os resultados foram gradualmente sendo colocados numa página na internet, muito simples, feita com a boa vontade dos alunos. Pode ser vista  aqui . Mais tarde, depois de ter obtido o doutorado, comecei a orientar também trabalhos de mestrado e doutorado, principalmente sobre Cecília. E assim, de tr

Cecília e eu - parte 8

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Ainda durante o doutorado, prestei o concurso para trabalhar na Unesp, em Assis, e passei. Lá começava uma nova fase na minha vida. Logo nos primeiros anos, comecei a orientar trabalhos de Iniciação Científica. E quem adivinha o tema das pesquisas? Bom, na verdade eram temas variados, mas sempre havia alguns alunos pesquisando Cecília sob minha orientação. Uma das primeiras ideias que tive foi reativar o levantamento de textos sobre Cecília, como numa continuidade daquele trabalho do mestrado. Durante muitos anos, tive alunos coletando o que se escrevia sobre ela: Jane, Luciana, Jacicarla, Vinicius, Fabiano. Ao final das etapas das pesquisas, os documentos eram também enviados para Campinas. Os resultados foram gradualmente sendo colocados numa página na internet, muito simples, feita com a boa vontade dos alunos. Pode ser vista  aqui . Mais tarde, depois de ter obtido o doutorado, comecei a orientar também trabalhos de mestrado e doutorado, principalmente sobre Cecília. E assim,

Cecília e eu - parte 7

Já estou na sétima postagem e ainda nem contei como foi o final do meu mestrado. Pois bem,  depois de ter feito temporadas de pesquisa em São Paulo e Rio de Janeiro, já tinha comigo o material de que precisava para terminar a dissertação. E aí começou um longo período de crises na hora de escrever... Mas finalmente chegou o fim do prazo e a dissertação ficou pronta. Um dos membros da banca foi o mesmo Alexandre Eulalio, de quem já falei na parte 5. Ele já estava doente, naquela altura, e infelizmente morreu poucos meses depois. Em memória dele, a Unicamp criou o Centro de Documentação Alexandre Eulalio, inclusive para receber os documentos de seu espólio que foram doados pela família. Durante os anos finais do mestrado, eu já tinha me mudado para São Paulo e começado a dar aulas em faculdades particulares. Depois da defesa, continuava apaixonada por Cecília mas não tinha vontade de fazer doutorado, até que um dia achei que era hora de começar de novo. Consegui ser aprovada para o douto

Cecília e eu - parte 7

Já estou na sétima postagem e ainda nem contei como foi o final do meu mestrado. Pois bem,  depois de ter feito temporadas de pesquisa em São Paulo e Rio de Janeiro, já tinha comigo o material de que precisava para terminar a dissertação. E aí começou um longo período de crises na hora de escrever... Mas finalmente chegou o fim do prazo e a dissertação ficou pronta. Um dos membros da banca foi o mesmo Alexandre Eulalio, de quem já falei na parte 5. Ele já estava doente, naquela altura, e infelizmente morreu poucos meses depois. Em memória dele, a Unicamp criou o Centro de Documentação Alexandre Eulalio, inclusive para receber os documentos de seu espólio que foram doados pela família. Durante os anos finais do mestrado, eu já tinha me mudado para São Paulo e começado a dar aulas em faculdades particulares. Depois da defesa, continuava apaixonada por Cecília mas não tinha vontade de fazer doutorado, até que um dia achei que era hora de começar de novo. Consegui ser aprovada para o d

Cecília e eu - parte 6

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Aqueles meses de pesquisa no Rio passaram muito depressa, mas foram muito marcantes para mim. Rastreei Cecília pela cidade. Visitei muitas vezes a casa do Cosme Velho. Comprei livros, ganhei outros. Mas quando falo em comprar livros, preciso falar de alguém que entrou na minha história com Cecília e a transformou completamente. Falo de um livreiro, Jaime Marcelino Gomes. Seu Jaime, conhecido de muita gente que passou pela USP, era um português que tinha uma banca de livros usados na FFLCH. Ele era craque em encontrar edições raras. Além da banca na USP ele tinha uma livraria em casa, um paraíso para quem, como eu, vivia fuçando livros usados nos sebos. Comprei muitos livros dele, que não tinha dúvidas em abrir seu caderninho e anotar a dívida que os clientes, como eu, iam pagando pouco a pouco, como desse. Vendia fiado sem medo. Conhecendo minha paixão por Cecília, Seu Jaime sempre procurava edições raras dela pra mim. Numa fase em que eu morava no interior, recebia dele cartinhas muit

Cecília e eu - parte 6

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Aqueles meses de pesquisa no Rio passaram muito depressa, mas foram muito marcantes para mim. Rastreei Cecília pela cidade. Visitei muitas vezes a casa do Cosme Velho. Comprei livros, ganhei outros. Mas quando falo em comprar livros, preciso falar de alguém que entrou na minha história com Cecília e a transformou completamente. Falo de um livreiro, Jaime Marcelino Gomes. Seu Jaime, conhecido de muita gente que passou pela USP, era um português que tinha uma banca de livros usados na FFLCH. Ele era craque em encontrar edições raras. Além da banca na USP ele tinha uma livraria em casa, um paraíso para quem, como eu, vivia fuçando livros usados nos sebos. Comprei muitos livros dele, que não tinha dúvidas em abrir seu caderninho e anotar a dívida que os clientes, como eu, iam pagando pouco a pouco, como desse. Vendia fiado sem medo. Conhecendo minha paixão por Cecília, Seu Jaime sempre procurava edições raras dela pra mim. Numa fase em que eu morava no interior, recebia dele cartinhas

Cecília e eu - parte 5

Vamos apressar um pouco o passo e resumir os 4 anos que passei no curso de Letras: foi um período interessantíssimo da minha vida, mas os poemas de Cecília Meireles apareceram pouco nas aulas de literatura... Ou, pelo menos, não apareceram com a frequência que eu gostaria de vê-los. Em todo o caso, morando em Campinas ficou mais fácil para ampliar minha coleção de livros. Aos poucos, fui comprando o que encontrava nas livrarias e sebos. Com a aproximação da formatura, comecei a planejar o ingresso na pós-graduação, para poder dedicar-me mais ainda ao estudo da minha escritora. E assim foi: em 1982 eu estava matriculada no mestrado com a firme determinação de estudar a obra de Cecília. Para definir melhor meu projeto de pesquisa, comecei a buscar mais bibliografia sobre a autora. Assim, cheguei ao Centro de Ciências, Letras e Artes de Campinas, onde encontrei um arquivo de recortes de jornal sobre Cecília. Um tesouro! Depois de fazer cópias de tudo, minha orientadora sugeriu que eu apro

Cecília e eu - parte 5

Vamos apressar um pouco o passo e resumir os 4 anos que passei no curso de Letras: foi um período interessantíssimo da minha vida, mas os poemas de Cecília Meireles apareceram pouco nas aulas de literatura... Ou, pelo menos, não apareceram com a frequência que eu gostaria de vê-los. Em todo o caso, morando em Campinas ficou mais fácil para ampliar minha coleção de livros. Aos poucos, fui comprando o que encontrava nas livrarias e sebos. Com a aproximação da formatura, comecei a planejar o ingresso na pós-graduação, para poder dedicar-me mais ainda ao estudo da minha escritora. E assim foi: em 1982 eu estava matriculada no mestrado com a firme determinação de estudar a obra de Cecília. Para definir melhor meu projeto de pesquisa, comecei a buscar mais bibliografia sobre a autora. Assim, cheguei ao Centro de Ciências, Letras e Artes de Campinas, onde encontrei um arquivo de recortes de jornal sobre Cecília. Um tesouro! Depois de fazer cópias de tudo, minha orientadora sugeriu que e

Cecília e eu - parte 4

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Eu sei que talvez esteja me demorando demais na descrição de minhas andanças pela casa do Cosme Velho com Maria Mathilde, mas queria mesmo contar com detalhes, pois foi uma experiência marcante na minha história com Cecília. Para não cansar quem até agora não desistiu de acompanhar a série de posts, vou tentar resumir um pouco... Digo apenas que percorri a casa toda com minha anfitriã. E pude conhecer até mesmo os azulejos onde Cecília um dia tirou essa foto: Mas o mais emocionante mesmo foi chegar ao segundo andar, onde se encontrava a biblioteca de Cecília, ver seus livros ali nas estantes e poder até mesmo tocar a mesa em que ela trabalhou durante tanto tempo: Ao que parecia, Maria Mathilde procurava manter o escritório bastante preservado, de modo que parecia que Cecília poderia voltar a qualquer momento e retomar seus escritos. Como disse, foi uma experiência marcante na minha vida. Saí de lá levando muitas edições de livros de Cecília, recebidas como presente de Mathilde. Minha c

Cecília e eu - parte 4

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Eu sei que talvez esteja me demorando demais na descrição de minhas andanças pela casado Cosme Velho com Maria Mathilde, mas queria mesmo contar com detalhes, pois foi uma experiência marcante na minha história com Cecília. Para não cansar quem até agora não desistiu de acompanhar a série de posts, vou tentar resumir um pouco... Digo apenas que percorri a casa toda com minha anfitriã. E pude conhecer até mesmo os azulejos onde Cecília um dia tirou essa foto: Mas o mais emocionante mesmo foi chegar ao segundo andar, onde se encontrava a biblioteca de Cecília, ver seus livros ali nas estantes e poder até mesmo tocar a mesa em que ela trabalhou durante tanto tempo: Ao que parecia, Maria Mathilde procurava manter o escritório bastante preservado, de modo que parecia que Cecília poderia voltar a qualquer momento e retomar seus escritos. Como disse, foi uma experiência marcante na minha vida. Saí de lá levando muitas edições de livros de Cecília, recebidas como presente de Mathi

Cecília e eu - parte 3

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Eu tinha, na postagem anterior, contado como foi subir os degraus do jardim daquela casa mágica no Cosme Velho com palavras de Cecília ecoando na minha cabeça. Pois bem, assim que chegamos à varanda da casa, Maria Mathilde começou uma espécie de jogo comigo, que se tornou um hábito entre nós. De repente ela apontava para algum objeto e me perguntava se eu o reconhecia. Eram sempre aqueles que de alguma maneira tinham sido referenciados nos textos de Cecília. Ela me testava, eu sabia. Mas eu adorava , porque assim ia conhecendo ao vivo o universo em que viveu Cecília. Um dos primeiros objetos escolhidos para o teste foi um espelho oval, cujo desenho foi usado por Cecília num poema-errata, em que pedia desculpas por um deslize ortográfico. Depois, mostrou-me a estátua da primavera que aparece no poema "Leilão de jardim", do livro Ou isto ou aquilo : "Quem me compra este caracol? / Quem me compra um raio de sol? / Um lagarto entre o muro e a hera, / uma estátua da Primavera

Cecília e eu - parte 3

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Eu tinha, na postagem anterior, contado como foi subir os degraus do jardim daquela casa mágica no Cosme Velho com palavras de Cecília ecoando na minha cabeça. Pois bem, assim que chegamos à varanda da casa, Maria Mathilde começou uma espécie de jogo comigo, que se tornou um hábito entre nós. De repente ela apontava para algum objeto e me perguntava se eu o reconhecia. Eram sempre aqueles que de alguma maneira tinham sido referenciados nos textos de Cecília. Ela me testava, eu sabia. Mas eu adorava , porque assim ia conhecendo ao vivo o universo em que viveu Cecília. Um dos primeiros objetos escolhidos para o teste foi um espelho oval, cujo desenho foi usado por Cecília num poema-errata, em que pedia desculpas por um deslize ortográfico. Depois, mostrou-me a estátua da primavera que aparece no poema "Leilão de jardim", do livro Ou isto ou aquilo : "Quem me compra este caracol? / Quem me compra um raio de sol? / Um lagarto entre o muro e a hera, / uma estátua da Primav

Cecília e eu - parte 2

Pronto, vamos continuar mais um pouco a história... Estávamos em 1977, não é? Naquele ano, eu prestei vestibular para aquela que seria a primeira turma de Letras da Unicamp. Mas antes de sair o resultado, fui visitar minha prima que estava morando no Rio de Janeiro. Lá, eu tinha um plano secreto: tentar encontrar as filhas de Cecília. Eu tinha escrito para algumas editoras, tentando contato com a família e também com alguns estudiosos da obra de Cecília. Eu era atrevida e assim já tinha descoberto que a segunda filha da poetisa, Maria Mathilde, morava então no mesmo endereço do Cosme Velho onde a minha escritora querida tinha passado as últimas décadas de sua vida. Os mais novos não devem saber, mas os mais velhos certamente se lembrarão de que nessa época, eram raros os telefones - fixos, claro - que funcionavam, no Rio. Tentei ligar, mas não consegui. Assim - eu era atrevida, lembram? - peguei um ônibus e me abalei para o Cosme Velho, sem ter a menor ideia de onde ficava a Rua Smith

Cecília e eu - parte 2

Pronto, vamos continuar mais um pouco a história... Estávamos em 1977, não é? Naquele ano, eu prestei vestibular para aquela que seria a primeira turma de Letras da Unicamp. Mas antes de sair o resultado, fui visitar minha prima que estava morando no Rio de Janeiro. Lá, eu tinha um plano secreto: tentar encontrar as filhas de Cecília. Eu tinha escrito para algumas editoras, tentando contato com a família e também com alguns estudiosos da obra de Cecília. Eu era atrevida e assim já tinha descoberto que a segunda filha da poetisa, Maria Mathilde, morava então no mesmo endereço do Cosme Velho onde a minha escritora querida tinha passado as últimas décadas de sua vida. Os mais novos não devem saber, mas os mais velhos certamente se lembrarão de que nessa época, eram raros os telefones - fixos, claro - que funcionavam, no Rio. Tentei ligar, mas não consegui. Assim - eu era atrevida, lembram? - peguei um ônibus e me abalei para o Cosme Velho, sem ter a menor ideia de onde ficava a Rua

Cecília e eu - parte 1

Decidi começar a contar aqui a longa história que me liga à obra de Cecília Meireles e - por que não? - até mesmo à pessoa da poetisa, embora eu nunca a tenha conhecido pessoalmente. Terei de escrever vários posts para isso, pois tudo começou há 37 anos. E não acabou ainda... Em 1976, eu era uma adolescente típica, cheia de crises, sem ainda ter sequer escolhido a carreira que gostaria de seguir, mesmo estando já no penúltimo ano daquilo que chamávamos de colegial. Gostava de música, gostava de literatura e foi assim que um dia, tendo ouvido falar que a letra de "Os inconfidentes", de Chico Buarque, fora tirada de um poema de Cecília Meireles, fui à biblioteca da escola para encontrar a  fonte. Conhecia Cecília dos poemas infantis, das crônicas que apareciam nos livros didáticos. Mas nem sequer sabia que ela tinha um livro chamado Romanceiro da Inconfidência . Por isso, pedi à bibliotecária a Obra poética de Cecília Meireles, pensando que não seria difícil encontrar a origem

Cecília e eu - parte 1

Decidi começar a contar aqui a longa história que me liga à obra de Cecília Meireles e - por que não? - até mesmo à pessoa da poetisa, embora eu nunca a tenha conhecido pessoalmente. Terei de escrever vários posts para isso, pois tudo começou há 37 anos. E não acabou ainda... Em 1976, eu era uma adolescente típica, cheia de crises, sem ainda ter sequer escolhido a carreira que gostaria de seguir, mesmo estando já no penúltimo ano daquilo que chamávamos de colegial. Gostava de música, gostava de literatura e foi assim que um dia, tendo ouvido falar que a letra de "Os inconfidentes", de Chico Buarque, fora tirada de um poema de Cecília Meireles, fui à biblioteca da escola para encontrar a  fonte. Conhecia Cecília dos poemas infantis, das crônicas que apareciam nos livros didáticos. Mas nem sequer sabia que ela tinha um livro chamado Romanceiro da Inconfidência . Por isso, pedi à bibliotecária a Obra poética de Cecília Meireles, pensando que não seria difícil encontrar a ori

Do alto

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No sábado fui ao topo do hotel Mercure. É linda a vista de Santos a partir da área da piscina. Fiz uma foto panorâmica pra dar uma ideia do cenário. Vale a visita.

Minha cidade natal

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Quando eu era adolescente, fiz certa vez um poema-piada com a cidade onde nasci, chamada Socorro: "Só corro / da minha cidade natal". A piada serviu mais para provocar meu pai que, como eu, tinha nascido ali. Mas, ao contrário dele, eu praticamente não morei lá, já que meus pais se mudaram da cidade quando eu ainda era bebê. Quando meu pai se aposentou, minha mãe e ele foram moram lá, de novo. Minha mãe, hoje viúva, continua na mesma casa onde meu pai nasceu, uma daquelas casas antigas, com as janelas dos quartos praticamente na calçada. Quando vou visitar minha mãe, acho que fica mais claro porque criei esta Psiulândia: acho que não há lugar mais barulhento na face da terra do que Socorro. Mas devo confessar que Socorro se supera a cada visita. Para provar, conto algumas ocorrências deste último fim de semana. Cheguei lá na hora do almoço, no sábado. Logo no início da tarde, minha mãe e eu fomos surpreendidas com a passagem de um gigantesco trio elétrico na frente de casa. O

Minha cidade natal

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Quando eu era adolescente, fiz certa vez um poema-piada com a cidade onde nasci, chamada Socorro: "Só corro / da minha cidade natal". A piada serviu mais para provocar meu pai que, como eu, tinha nascido ali. Mas, ao contrário dele, eu praticamente não morei lá, já que meus pais se mudaram da cidade quando eu ainda era bebê. Quando meu pai se aposentou, minha mãe e ele foram moram lá, de novo. Minha mãe, hoje viúva, continua na mesma casa onde meu pai nasceu, uma daquelas casas antigas, com as janelas dos quartos praticamente na calçada. Quando vou visitar minha mãe, acho que fica mais claro porque criei esta Psiulândia: acho que não há lugar mais barulhento na face da terra do que Socorro. Mas devo confessar que Socorro se supera a cada visita. Para provar, conto algumas ocorrências deste último fim de semana. Cheguei lá na hora do almoço, no sábado. Logo no início da tarde, minha mãe e eu fomos surpreendidas com a passagem de um gigantesco trio elétrico na frente de ca

Carta para a terra pura

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Querido Rodrigo, querido Senshô, hoje se completam os 49 dias desde que você se foi. Alguma razão devem ter os budistas (como você) para entender que esse é o prazo de que a gente precisa pra entender que as coisas nunca mais serão como foram. A saudade da sua presença já achou seu lugar dentro da gente e já se instalou ali pra nunca mais sair. Já não estranho mais quando me dou conta de que faz tempo que você não aparece na minha timeline do twitter ou do facebook. Continua sendo muito triste, mas ficou uma coisa normal também. Desgraçadamente normal. Mas resolvi escrever essa carta pra você pra te contar o que andou acontecendo nesses 49 dias. Achei que você gostaria de saber. Começo por te contar que no dia da cerimônia budista apareceu tanta gente de tantos lugares que ainda me espanta lembrar. Foi um ritual triste mas lindo, porque dava pra ver a força do afeto que reuniu todo mundo. Tinha até gente que não chegou a te conhecer pessoalmente, mas que estava ali, sentindo a sua falt

Carta para a terra pura

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Querido Rodrigo, querido Senshô, hoje se completam os 49 dias desde que você se foi. Alguma razão devem ter os budistas (como você) para entender que esse é o prazo de que a gente precisa pra entender que as coisas nunca mais serão como foram. A saudade da sua presença já achou seu lugar dentro da gente e já se instalou ali pra nunca mais sair. Já não estranho mais quando me dou conta de que faz tempo que você não aparece na minha timeline do twitter ou do facebook. Continua sendo muito triste, mas ficou uma coisa normal também. Desgraçadamente normal. Mas resolvi escrever essa carta pra você pra te contar o que andou acontecendo nesses 49 dias. Achei que você gostaria de saber. Começo por te contar que no dia da cerimônia budista apareceu tanta gente de tantos lugares que ainda me espanta lembrar. Foi um ritual triste mas lindo, porque dava pra ver a força do afeto que reuniu todo mundo. Tinha até gente que não chegou a te conhecer pessoalmente, mas que estava ali, sentindo a sua

Tchau, Senshô!

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Eu sempre tenho dificuldade de entender um mundo que ande em linha reta. Deve ser por isso que procuro entender a vida avançando lentamente em espirais. E de vez em quando um círculo se fecha, como se fechou ontem. Foi assim, eu conto. Quando nos falamos pelo Twitter pela primeira vez, em julho de 2011, um oceano nos separava: ele no Brasil e eu na Hungria, em férias. Muita conversa virtual rolou em capítulos de 140 caracteres, com a constatação de muitas afinidades entre a gente. Depois, quando eu já estava de volta ao Brasil, marcamos um jantar, para nos conhecermos pessoalmente. Nunca me esquecerei da sua chegada: aquele homem enorme saltando diante de nós pra se apresentar, com seu sorriso lindo e seus óculos vermelhos. Nessa noite, na mesa no Pasquale, a conversa fluiu fácil entre nós seis. A gente já se conhecia e ao mesmo tempo estava se conhecendo naquela hora. Coisas da internet, que já trouxe tantas pessoas legais para a minha vida. Continuamos nossa convivência cotidiana no

Tchau, Senshô!

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Eu sempre tenho dificuldade de entender um mundo que ande em linha reta. Deve ser por isso que procuro entender a vida avançando lentamente em espirais. E de vez em quando um círculo se fecha, como se fechou ontem. Foi assim, eu conto. Quando nos falamos pelo Twitter pela primeira vez, em julho de 2011, um oceano nos separava: ele no Brasil e eu na Hungria, em férias. Muita conversa virtual rolou em capítulos de 140 caracteres, com a constatação de muitas afinidades entre a gente. Depois, quando eu já estava de volta ao Brasil, marcamos um jantar, para nos conhecermos pessoalmente. Nunca me esquecerei da sua chegada: aquele homem enorme saltando diante de nós pra se apresentar, com seu sorriso lindo e seus óculos vermelhos. Nessa noite, na mesa no Pasquale, a conversa fluiu fácil entre nós seis. A gente já se conhecia e ao mesmo tempo estava se conhecendo naquela hora. Coisas da internet, que já trouxe tantas pessoas legais para a minha vida. Continuamos nossa convivência cotidi